A MATERNIDADE E A GUERRA


A MATERNIDADE E A GUERRA

Desde os primórdios, homens e mulheres diferem em alguns aspectos. Longe de ser um expert em comportamento humano, e nem em antropologia, gostaria de traçar aqui uma pequena linha de pensamento acerca de um aspecto da psicologia humana. A sensibilidade.

Diria em principio que as mulheres sejam mais sensíveis, dotadas de uma capacidade emotiva maior, o que é uma verdade. Contudo fica aqui uma indagação: e quando desejamos conquistar uma mulher, acaso não expomos de nós uma face carinhosa, afetuosa, delicada para com ela? Acaso todo nosso gestual e nosso falar não se encobrem de uma doçura impar? A musculosa e grosseira mão masculina não se mostra capaz do mais delicado toque ao acariciar uma face de mulher?

Então haja vista, temos que reconhecer que podemos ser tanto ou mais delicados e afetuosos que uma mulher! Até porque o cortejar se faz principalmente por iniciativa masculina. A reciproca é verdadeira, ok, cabe a ela retribuir (ou não!), mas a ele o primeiro ato.

Então, onde e porque, ora bolas o homem esconde todo aqueles traços emotivos que permeiam sua alma? Ai entra uma habilidade adquirida nos corredores da necessidade por séculos. A arte da dissimulação, do blefe. Neste ponto se explicam os dois elementos que moldaram a psique feminina e a masculina, a saber, a maternidade e a guerra..

A primeira deu à mulher a vantagem evolutiva da afetividade, de maturação emocional. Ela provou a fundo todas as emoções humanas possíveis e isto a ensinou a amar, confiar, mas também a ser seletiva. Desta forma ela pode viver a plenitude dos sentimentos e sair inteira, se reerguer.

Já a guerra deu ao homem o receio, a desfaçatez, a inclinação a duplicidade, à capacidade da dissimulação; e a sufocar seus sentimentos, vendo-os como sinal de fraqueza.

Os tantos séculos, ou milênios, de experiências com seus pares, nos campos de batalha, embruteceu o homem. Deixou-o desconfiado: acha que um sorriso da mulher seja um projétil mirado em seu peito, que viver ainda é correr num campo minado, que ter sentimento seja baixar a guarda. Em sua mente, sombras do passado o apavoram, e na trincheira um fantasma ainda se ergue e salta. Pobre homem desconhece que tal era acabou. Já não é mais soldado, e nem vira agricultor.
Não mais faz a guerra nem semeia paz. E seu coração se faz cada dia mais árido.
- O corpo que se arrastou sobre arame farpado, correu sob fogo cruzado e empunhou baionetas; teme os espinhos da mais inocente flor! Triste constatação...
Verdade que as agruras de um campo de combate o forçaram a aprender engolir as lagrimas, ignorar o sentimento de perda ao ver tombar um "irmão", e se possível driblar a morte, ou até enfrenta-la com bravura se preciso. Ali, no calor da batalha, piedade e amor cessavam, quando a derrota implicava no extermínio seu e de seu povo. Mas a guerra acabou. Coexistimos; não em perfeita paz, mas em relativa paz.
Mas moldados que fomos pela guerra temos em nós resquícios da mesma. Esta frieza, esta tendência a sufocar a voz do coração.
Esta velha máxima que diz que homem não chora!
Que apregoa ser imprescindível gritar mais alto, dar o soco mais forte na mesa, e ter a ultima palavra em tudo.
Pobre homem, tão inclinado aos mais primitivos instintos; mas no fundo sabendo que emotiva e sensível, senhora da concepção e da maternidade, a mulher, de suas dores, fez brotar o mais doce e supremo dos comportamentos: o amor ; que se compraz e se completa no mais simples dos agrados: um carinho, ou toque suave, na face que seja, que a faça sonhar!

Kiko dos Santos
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/1391285

http://www.clubedeautores.com.br/book/77250--cartas_nauticas?topic=poesia

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Facebook

STATS